Por Editora MercadoLivros
22/11/2016
Jaqueline Conte, autora do nosso livro Na casa amarela do vovô, Joaninja come jujubas, trocou algumas palavras com a gente sobre a escrita do livro.
Jaqueline Conte/ autora
Como foi o seu contato com a escrita e com desenho quando você era criança?
Sempre gostei de escrever. Desde pequena gostava de livros e de leitura e escrever foi um passo natural. Lia de tudo, mas gostava especialmente de escrever poemas. Alguns até foram publicados em jornal, com a ajuda de uma professora; tive um poema selecionado para publicação em livro e ganhei um concurso de poemas no segundo grau. Aliás, tive professoras de português e de artes que foram muito importantes para mim, que souberam regar muito bem esse broto de escritora. Os professores são fundamentais para incentivar o gosto pela leitura e pela escrita (ou para enterrá-lo de uma vez por todas!). Lembro-me de como ficava feliz quando tinha que ler pra escola um livro que era muito legal, ou quando fazíamos peças de teatro baseadas em poesias ou livros (recordo-me de duas peças em especial; uma que se chamava “A Poesia vai ao Circo” e outra que era uma adaptação de “A Fada que tinha ideias”, clássico da literatura infantojuvenil, da Fernanda Lopes de Almeida (aqui um agradecimento especial a Leila Maria Meri, a professora que me fez “Clara Luz” e que mais me deu asas no mundo das artes; hoje amiga especial). Outra coisa que me incentivava bastante era quando escritores vinham à escola, conversar sobre sua obra e o fazer literário. Era inspirador “materializar” o escritor. Todos gente como a gente, mas que faziam algo especial. Vejo isso acontecer hoje também com minha filha de 8 anos, que adora quando um escritor vem conversar com a turma. Ao desenho, nunca me dediquei, mas sempre gostei de desenhar. Minha mãe conta que quando eu era muito pequena e me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu respondia: “desenhora”. Gosto da brincadeira de materializar palavras em imagens; muitas vezes penso na palavra como objeto físico. Também gosto de perceber desenhos em superfícies aleatórias, como pedras de granito. É divertido dar vida ao que parece estático.
Como surgiu a ideia do livro Na casa amarela do vovô, Joaninja come jujubas?
De um surto de criatividade. Acordava à noite com ideias ou palavras esparsas que não me deixavam dormir. Tinha que levantar e escrever. Foram dias seguidos em que as palavras me perseguiam, dia e noite. E imagens também, porque imagino os personagens. Aí veio a ideia de fazer um livro de poemas em que as crianças pudessem participar, fazendo sua versão, em imagem. Com o poema Joaninja, o processo foi diferente. Pensei na imagem da joaninha, que adoro e acho que todo mundo adora. Pensei: “vou fazer um poema sobre joaninha”. Sentei em frente ao computador e escrevi, sem querer: “Joaninja”. Bingo! Aquele erro de digitação, troca entre duas letras vizinhas do teclado, tinha me dado o poema de presente. Foi só escrever. A natureza e o acaso vivem fazendo isso com a gente, oferecendo-nos poemas prontos.
Enquanto a gente lê o seu livro, fica bem clara a sua ideia de fazer poemas com elementos do mundo das crianças e também o espaço em branco, para que as crianças escrevam e desenhem no livro. Enquanto autora, qual a sua percepção de livros que deem esse incentivo às crianças? Você leu livros assim quando era criança?
Eu gosto da ideia do livro como objeto interativo; de livro para ser vivido, curtido; que incentive a mistura de linguagens; que pernoite na estante, mas não morra na poeira; que crie um vínculo com a criança.
Tenho outro projeto que trabalha com interação no livro físico (vale acompanhar o Mil Futuros Desejáveis: jqconte.wix.com/milfuturosdesejaveis e facebook.com/milfuturosdesejaveis). Gosto de livros que dão asas à imaginação. Quando leio um poema, eu o imagino. O que será que a criança imagina quando lê um poema meu? Não é muito legal saber? Lembro de na infância/adolescência ler livros da coleção Enrola e Desenrola, da Ediouro; daqueles em que você escolhe o rumo da história. Eram livros traduzidos. Adorava esse formato, porque podia interagir (embora hoje, relendo um ou outro, perceba como o roteiro de alguns era “tosco”). Tudo o que dá corda à imaginação me interessa. A criança é um ser livre e nós, adultos, temos a obrigação de fortalecer suas asas.
O que você mais gostou no Na casa amarela do vovô, Joaninja come jujubas?
Este livro foi um exercício de liberdade. Pude exercer a criatividade sem amarras. A editora apostou na ideia e respeitou a proposta (obrigada, Yvette Pais). Gosto do formato, gosto da programação visual, feita pelo Cassiano Tabalipa. Gostei muito do conjunto, que sugere, sem induzir a criança; que abre, não fecha. E amei ter a orelha do livro assinada pelo Jiro Takahashi, um dos mais respeitados editores do Brasil (Ática, Abril, Nova Fronteira, Ed. do Brasil, Ediouro, Editora Prumo/Rocco, Nova Aguilar), atuando no mercado editorial desde 1966, quando ingressou na Ática. Lá foi responsável, entre outras tantas obras, pelas icônicas coleções Vaga-Lume e Para Gostar de Ler, que fizeram parte de minha infância e adolescência como leitora. Jiro gostou do livro e generosamente aceitou o meu convite para fazer a orelha. Para mim, alegria e honra sem fim (ops, rimou!).
Jaqueline Conte é jornalista, com 19 anos de atuação em mídia impressa, agências de comunicação e comunicação pública. Pós-graduada em Economia Criativa e Colaborativa; Fotografia; e Marketing e Publicidade. Formada em Pâtisserie e Boulangerie pelo Centro Europeu. Pós-graduanda em Produção e Gestão Editorial Multiplataforma.